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Tenho vindo pouco aqui. E quase sempre apenas de visita. Por vezes perguntam-me porquê, o que se passa para que eu escreva tão pouco. Fico sempre surpreendido. Para começar, que me leiam. Depois, que isso possa ser significativo. Finalmente, que me perguntem. Porque nesse momento - e apenas nesse momento - coloco a mim mesmo essa pergunta. Porque normalmente os dias se sucedem uns aos outros sem que eu sequer me aperceba se escrevi ou não. Normalmente é nessas alturas que eu acordo e percebo que tenho sido mais fazedor que pensador. E não sei se isso é bom. Claro que penso nas coisas, mas normalmente canalizo o que penso para formas de fazer e menos para formas de ser. Penso, mas não me penso. E quando me penso é relativamente a algo que tenho que preparar: uma oração, uma formação, uma catequese, um encontro. E a distância acentua-se. E às tantas vejo-me mais a dizer coisas bonitas que refletidas. E genuínas. E isso, sim, é mau. Numa destas noites mal dormidas senti necessidade de faz
 “Um transexual – mesmo quem se submeteu a um tratamento hormonal e a uma cirurgia de mudança de sexo – pode receber o batismo, nas mesmas condições dos outros fiéis, se não houver situações em que haja o risco de gerar escândalo público ou desorientação entre os fiéis”, indica o documento, divulgado online e aprovado pelo Papa, informa o Vaticano. Não consigo entender . Quer dizer: entendo as dúvidas acerca da transexualidade. Mais as minhas, que tenho que fazer um esforço para as passar do coração à cabeça, ou seja, da aceitação natural que cada um  possa escolher quem é (sendo que, nestes casos de transexualidade ou homossexualidade, nem sequer se pode falar de escolha), para a naturalidade do tratamento (refiro-me ao nome escolhido, ao pronome pessoal a utilizar...) que as da Igreja, que deve acolher de braços abertos todos, todos, todos.  O que não consigo, de todo, entender, é a condicionalidade da aceitação ao risco de escândalo público ou desorientação. Não aprendemos nada
Ultimamente tenho andado a pensar que as questões da moral, na Igreja ou fora dela, deveriam ser exclusivamente auto impostas. Que tudo o que não seja aplicar em mim e não nos outros, tem forte tendência para a asneira.  Já estou cansado de saber como a vida me finta. Em mim aplicam-se na perfeição os telhados de vidro ou o cuspo para o ar que inevitavelmente me cai no meio da testa. têm sido imensas as situações que, em alguma altura da vida me arroguei a dar postas de pescada e agora apanho com elas nos queixos. Sempre que isso acontece, encolho-me todo de vergonha e rezo duas coisas: que eu não volte a repetir; que as pessoas visadas por essa minha arrogância já a tenham esquecido.  Gostaria de pensar que esta é uma coisa que vai passando com a idade, mas não é verdade. Basta-me estar um pouco mais cheio de mim e lá caio na esparrela de mi próprio. Ontem, na eucaristia, rezava isso: vou esforçar-me mesmo por aplicar apenas a moral a mim próprio, porque apenas eu e Deus conhecemos as
Dizia eu ontem a um miúdo - estou na idade em que todos abaixo dos 30 são miúdos - que o "Para Sempre" me assusta. E desde sempre que assustou. Porque este sempre nem sequer é exatamente verdadeiro quanto ao passado - provavelmente houve alturas em que o para sempre não me assustava assim tanto - quanto mais quando perspetivamos ou nos comprometemos com o futuro. O Para Sempre é a manifestação de um desejo e, nas melhores hipóteses, um compromisso. Mas na verdade não faz grande sentido. Porque nos aprisiona, porque nos rouba a liberdade de, a cada dia, podermos escolher, porque nos obriga a cumprir algo que foi decidido ao passado independentemente das circunstâncias do presente. E eu, se aprecio imenso o compromisso, não gosto da obrigatoriedade. Há uns anos pediram-me para fazer um breve discurso para dois amigos que tinham casa há pouco tempo. E eu, de improviso, disse-lhes que não acreditava em casamentos para sempre, mas em casamentos de todos os dias. Porque é todos os
Eu digo, muitas vezes, mais ou menos em tom de brincadeira, que me orgulho do meu lado feminino. E sempre que o faço em tom de brincadeira é com o intuito de me colocar em bicos de pés, é porque reconheço uma qualquer característica ou dom que eu não tenho e que, não sendo exclusivo dos homens - assim de repente não me recordo de alguma coisa do foro psicológico que seja exclusiva de homens ou mulheres - consigo perceber que é mais numerosa nas mulheres. Eu não acho nada que homens e mulheres sejam a mesma coisa. Mas também não acho que o Joaquim e o Manel sejam a mesma coisa. Mesmo numa relação, qualquer que seja a forma com que se reveste, há diversos papéis que são desempenhados alternada ou simultaneamente, porque ninguém é igual a ninguém, Graças a Deus! Daqui decorre a minha tremenda dificuldade em entender todas as questiúnculas que, de ambos os lados da barricada, ocorrem frequentemente. Irrita-me solenemente - porque acentua a diferença - o portugueses e portuguesas dos discur
Por estes dias, sigo o Sínodo com muita atenção. É muita a expectativa, embora não demasiada, porque destas coisas vou percebendo o suficiente que os passos pequenos são importantes mas exasperantes. Sobretudo para a muita malta nova com quem tenho conversado - a começar pelos meus, lá em casa - que aspiram a muito maior firmeza e rapidez. O que é curioso, porque o que sair destes dias - sobretudo o que sair depois da segunda parte do sínodo, que irá ser discernida em outubro do próximo ano - será mais vivido por eles que por mim, que já não estarei a tempo de saborear as mudanças que, espero e desejo, daí virão. E o facto de eu e outros como eu estarmos já numa outra fase da vida não é despiciente em todo este processo de evolução da Igreja. O Concílio Vaticano II terminou por volta do ano em que nasci e, sobretudo depois de ter sido metido na gaveta com João Paulo II, só agora começa a ser intencional e abertamente recuperado. Tivessem as coisas corrido de outra maneira e provavelmen
Ontem, em Mafra, foi coroada, pelo D. Tolentino Mendonça, a Senhora da Soledade. Na verdade, confesso que não faço ideia se é assim que as coisas se dizem, porque não conheço nem tenho particular interesse em conhecer o protocolo destas coisas. Não é que considere que elas não sejam importantes - sê-lo-ão certamente para muita gente boa - apenas que não me dizem grande coisa. Provavelmente ditado e condicionado pela vida que vou vivendo, percebo que atribuo muito mais significado a um cristianismo de pés no chão e cabeça no alto que o seu contrário. Pelo menos nesta fase da minha vida, que é feita de leituras e estudo mas tendo sempre como objetivo último a operacionalização do que leio e estudo. Sem, no entanto, desvalorizar minimamente tudo o resto porque ambas as coisas são necessárias e até fundamentais na Igreja. É preciso quem faça e é preciso quem estude e é preciso quem reze e é preciso quem cuide e é preciso quem mastigue e entregue o que outros estudam e leem. E isso é bom. M